Quando recebi o convite para participar da mostra cultural ¨Traços Brasileiros¨(¹), com um trabalho em mosaico sobre lendas brasileiras, me senti muito honrada e logo atraída pela lenda do Boitatá que, segundo os relatos indígenas, era uma grande cobra de fogo habitante das florestas e rios. Desde sempre, as cobras são seres temíveis mas fascinantes!
Depois de uma pequena pesquisa para construir meu desenho, verifiquei que, em algumas versões da lenda, o Boitatá continha no seu corpo muitos olhos como pontos de luz, tornando-o incandescente e brilhante. Em outras esses olhos apareciam na cabeça. Como minha intenção era transmitir principalmente seu caráter mágico, decidi que existiriam apenas três olhos na cabeça, sendo o terceiro olho o elemento que daria o toque de magia.
Devo confessar que Bruno, meu neto, me auxiliou inicialmente com os desenhos. Queria a contribuição de um olhar menos contaminado e mais espontâneo como de uma criança no projeto. Entretanto, para minha surpresa, quando ele viu minha interpretação com os três olhos teve uma reação de grande estranheza e não pareceu convencido com minha explicação.
Ora, porque sua fértil imaginação não reconheceu minha solução mágica como válida? Este fato me levou a refletir sobre qual é o lugar da magia para cada um de nós? Podemos, em princípio, colocá-la em qualquer lugar ou objeto, real ou imaginário, que melhor nos aprouver e nossa imaginação permitir. Mas, para este menino, o Bruno, ela não precisava estar fora e representada, ela simplesmente era, e estava lá, resguardada na sua imaginação!
(1) A exposição ¨Traços Brasileiros¨ está no Centro Cultural da Light até 9 de setembro.