A mulher negra de pés rudes e descalços, cor de barro, que parecem se fundir com a terra, nela estão bem plantados e com firmeza. Segura um estandarte da festa do Divino Espírito Santo (festa de origem portuguesa), cujas cores se confundem com sua roupa, parecendo dela fazer parte. Presente na obra ¨Bandeira do Divino Espírito Santo¨(1) de Ana Moura (Atelier Oruniyá), ela prende o olhar do observador, cativa sua atenção, nos atrai.
Muitos dos que a observam pensam conhecer alguém que se parece com ela, tal a força que transmite, exercendo, forjando uma identificação entre o que o observador vê e suas lembranças. Alguém comentou que ela se parecia com a mulher que o tinha cuidado na infância. Essa mulher era provavelmente descendente de escravos e cantava músicas que ninguém conhecia, talvez cantos de seus ancestrais, aprendidos em época remota.
Poderíamos dizer que ela nos lembra tantas outras mulheres trabalhadoras das lavouras, quituteiras, lavadeiras, cozinheiras, amas-de-leite, enfim, mulheres que fazem parte das nossas raízes rurais e africanas. Somos, enquanto nação, um amálgama de influências de diferentes povos. E, entre elas, a matriz africana fincou profundas raízes na cultura brasileira.
Podemos dizer que esses pés cor de barro representam essas raízes tão solidamente plantadas no solo e no imaginário. As tradições, costumes e festas populares demonstram não só a sua força como também o quanto permanecem vivas na memória e cultura do povo brasileiro.
(1) A obra ¨Bandeira de Divino Espírito Santo¨ da artista Ana Moura, pode ser vista na exposição ¨Traços Brasileiros¨, no Centro Cultural da Light até 6/09.